Harry sempre foi um típico rapaz nerd, daqueles extremamente tímidos e com pouquíssimo traquejo social, que cresceu trancado no quarto lendo livros e histórias em quadrinhos ou jogando em seu video game preferido. Nascido e criado apenas pelo pai em Hamilton, no Canadá, o que tinha de conforto e privilégios financeiros, tinha também de traumas e amadurecimento precoce.

Não que seu pai fosse um cara ruim; pelo contrário! Era um paizão e a relação dos dois era excelente. Mas crescer sem mãe e com um pai com uma série de doenças crônicas não era exatamente fácil. Harry aprendeu bem cedo o quão frágil e efêmera a vida pode ser, quando, lá pelos seus 7 anos, os médicos deixaram claro que seu pai não teria muitos anos de vida. Os enfermeiros que cuidavam do homem eram praticamente parte da família, sobretudo nos momentos mais difíceis, quando a doença se fazia mais severa, intercalando com momentos de calmaria, que duravam semanas, às vezes até meses, antes de uma nova tempestade.

O maior problema disso tudo era que Harry não tinha ninguém. Já não tinha mais seus avós, o pai nunca casou de novo e sequer tinha amigos próximos o suficientes para servirem de tutores pra criança depois que o homem não estivesse mais nesse mundo. E essa era a maior motivação dele para manter-se vivo, um dia após o outro.

Quer dizer, não é como se o rapaz não tivesse nenhuma família. ele tinha. Mais especificamente tinha 3 tios e uma ninhada de primos, dos quais foi até bem próximo até uma certa idade. Mas essa é uma questão complicada, assim como tudo na vida. antes de ter a saúde frágil e debilitada, o pai de Harry na verdade era um homem muito bem sucedido! Isso porque ele escreveu uma série de best sellers, se tornando uma referência entre fãs de livros de ficção científica e adquirindo uma quantidade de dinheiro suficiente para dar uma vida mais que confortável para si mesmo e seu filho.

A relação dos 4 irmãos sempre foi boa, mas as coisas apertaram depois que o pai deles morreu. Eles meio que não gostavam muito do pai de Harry, e nem o garoto sabe muito bem o porquê. Isso é, até o homem encher os bolsos de dinheiro e os tios do garoto voltarem correndo numa tentativa de reatar os laços e tudo mais. Tudo mentira, obviamente, motivada por interesse no que ele havia conquistado. E demorou um tempo até ele perceber isso e cortar todas as relações de uma vez por toda.

Claro que as coisas não ficariam por isso mesmo, né? a família decidiu, com isso, afastar-se completamente dos dois, deixando-os em isolamento; o que acabou sendo bom, por incrível que pareça. O problema é que, eventualmente, quando o pai de Harry enfim morreu, aqueles tios eram os únicos parentes próximos que ele tinha.

Não bastava ter que lidar com a dor de perder seu pai aos 14 anos, Harry agora sequer sabia o que seria de sua vida. Mas, pra “sorte” do garoto, seus tios lhe fizeram o favor de nem esperar ele superar o luto e já mandaram para um internato perto de Toronto, podendo manter o rapaz a uma distância segura para não ter que lidar com ele ao mesmo tempo que tentavam passar a mão em toda sua herança.

Foi lá, cursando o ensino médio, que conheceu um rapaz que, assim como sua mãe, coreano; um intercambista. E não era só isso que os dois tinham em comum, mas eles também dividiam um grande hobby: video games! Jogar, para os dois, não era apenas um passatempo, era parte significativa de sua vida, e ambos tinham o sonho de trabalhar com isso. Foi assim que, de forma orgânica e descontraída, surgiram os planos dos dois, depois da escola, começarem a estudar o assunto para que, assim que formados, conseguissem juntos abrir uma empresa na área!

Terminando a escola, no entanto, antes de tomar qualquer rumo em sua vida Harry tinha algo sério para resolver. Quando chegou em sua cidade natal, porém, tudo que era seu já tinha sido levado, só sobrando a casa onde cresceu e os residuais dos livros, adaptações e produtos licenciados das obras do pai. Sinceramente, ele não precisava de mais nada. Estava exausto de toda essa situação e não queria continuar revirando essa história e brigando pelo dinheiro de um homem que nem estava mais ali; com a venda da casa Harry juntou todas as suas coisas e foi, enfim, viver seu sonho, mesmo com todo o medo e a ansiedade que lhe preenchiam.

Hoje, já há alguns anos vivendo em solo coreano, ele está formado, tem o emprego dos sonhos, mora sozinho e nem precisa mais mexer no dinheiro que vem das obras do pai. O único problema mesmo foi ter se distanciado daquele amigo. Realmente acreditava nos planos que fizeram juntos, mas cada um sabe o que faz e, pra sua tristeza, o amigo acabou escolhendo seguir outro caminho. Claro que isso, somado a tudo que tinha acontecido, contribuiu para que o rapaz se tornasse um pouco amargurado… Mas, um dia após o outro, Harry foi aprendendo a lidar.

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